14 abril 2009

Lauro César Muniz em nova entrevista: …vou evitar ao máximo entrar em fórmulas já vistas e acabadas…


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“Nunca cogitei romper ligações com a Record.”

Para calar as más bocas, ou talvez não. Lauro César Muniz, autor da nova novela da Rede Record, ‘Poder Paralelo’, esclarece que, apesar dos pareceres de Tiago Santiago, consultor de teledramaturgia da emissora, e dos constantes adiamentos da trama, nunca cogitou “romper ligações com a Record”, dado que as relações entre ambos “são excelentes”.

De acordo com o novelista, a atual trama resulta do “estudo de uma fusão da linha central básica do livro do Lancelotti” com uma história de sua “autoria, que complementa a ação do livro”. Apesar da complexidade da trama, que “pretende agora manter o público da Record e captar um outro das classes A e B”, Lauro César Muniz sempre teve a certeza de que a trama seria produzida na Record, pelo que “nunca” cogitou “apresentar o projeto a outra emissora”. Para Lauro César Muniz, que já escreveu para a Record ‘Cidadão Brasileiro”, seria “um risco a emissora deixar de investir em histórias envolvendo tiros e violência”, dado que a corrupção, tão explicitamente representada na teledramaturgia da emissora, “origina violência”.

Com essa nova produção, que “estreia com uma frente de 44 capítulos escritos”, o autor vai “evitar ao máximo entrar em fórmulas acabadas e bastante vistas”. Para Lauro César Muniz, não faz ainda sentido falar em crise entre os atores Marcelo Serrado e Paloma Duarte, uma vez que existiram “apenas mal-entendidos”. Confira agora a entrevista na íntegra.

Por que a decisão de escrever uma novela sobre a máfia italiana e sua conexão com o Brasil?

Lauro César Muniz: Mexer na principal ferida do país: a corrupção que leva à violência.

Esta é uma novela cuja temática é de certo modo nova na teledramaturgia brasileira. Isso pode afugentar o público?

Lauro César Muniz: O nosso desafio está em como contar esta história, é aí que se define a qualidade de uma obra. Afugentar ou atrair o público é o resultado do processo criativo. Nosso objetivo é manter o público conquistado pelo horário, na emissora, e conquistar um outro público das classes A e B.

Até que ponto vai a sua inspiração no livro do Lancelotti e onde começa a parte da novela desenvolvida por você? Essa era uma ideia que já estava sendo idealizada por você há quanto tempo?

Lauro César Muniz: O tema de Poder Paralelo nasceu de uma leitura de um livro do Sílvio Lancellotti, quase 20 anos atrás. O livro “Honra ou Vendetta” (L&PM) trazia um dado interessante: a relação entre a máfia Siciliana e o Brasil. Achei que o romance daria uma minissérie. No ano passado apresentei o projeto à TV Record para uma telenovela, alertando que seria necessário fazer uma ampliação, pois o livro tinha apenas cinco personagens femininas e desviava-se em muitos momentos da linha ficcional para descrever personagens reais da máfia. Além disso, a ação do livro se passava na década de 80 e eu pretendia fazer uma novela atual. Estudei, então, a fusão da linha central básica do livro, com uma história de minha autoria que complementava o livro, com muitas ações novas, várias personagens femininas, atendendo à extensão de uma telenovela.

A decisão da Record de adiar a sua novela te deixou irado? Você pensou, por algum instante sequer, romper as ligações com essa emissora?

Lauro César Muniz: Eu tinha absoluta segurança da história que estava escrevendo e que seria aprovada mais cedo ou mais tarde. Nunca cogitei de transferir o projeto para outra emissora, muito menos em romper ligações com a TV Record.

Ao abordar nessa novela a máfia siciliana e a polícia federal brasileira, permeada por muita violência física e psicológica, você acabou por se render à teledramaturgia da Record, feita, ultimamente, entre tiros e muita ação?

Lauro César Muniz: Uma telenovela necessita envolver um público bastante heterogêneo, que quer vibrar com muitas ações físicas, onde surgem tiroteios, atos de violência, aquilo que fascina o espectador médio de hoje. Essa tem sido a linha da TV Record que está em processo de conquista de público. Fugir a esta fórmula seria um risco grande demais que, nesse momento, a emissora não deve correr. Com exceção desse clichê, vou evitar ao máximo entrar em fórmulas já vistas e acabadas.

Por que o nome inicial de ‘Vendetta’? Sendo esse o nome inicial que você preferiria, como você adequa agora o título ‘Poder Paralelo’ à sua trama?

Lauro César Muniz: Inicialmente o título “Vendetta” era uma alusão ao romance “Honra ou Vendetta”. No entanto o título Poder Paralelo contém plenamente o tema que estamos abordando: a influência de organizações criminosas junto ao Poder constituído legalmente.

O mote da trama se deve à chacina que ocorre na vida de Tony Castellamare, que vê toda a família morrer. Poderia explicar, em aspectos gerais, qual o perfil desse personagem? De que modo passa a ação da Itália para o Brasil?

Lauro César Muniz: Brasileiro de origem italiana, Tony cultiva a dupla imagem de comerciante exportador de azeite e vinhos e capo da máfia Siciliana. Inteligente e culto, tem uma personalidade sedutora e muito forte, capaz de decisões implacáveis. Ao mesmo tempo é afetivo, gentil e intenso.Tony é enigmático. O perigo exerce forte atração sobre ele. Faz um jogo perigoso com a polícia brasileira e o crime organizado, arriscando a vida e a liberdade em busca de seus objetivos. Mas quais são esses objetivos? Vingar a morte de sua mulher e filhas? Tornar-se o grande chefe do crime organizado? Ou entregar a polícia os cabeças do poder paralelo? Tony é um irresistível mistério.

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Deixar, uma vez mais, a cargo do Gabriel Braga Nunes o seu protagonista foi proposital? Por que a decisão recaiu novamente sobre ele?

Lauro César Muniz: Gabriel é um ator sensível, intuitivo, enigmático e com fôlego de protagonista . Se encaixa perfeitamente com Tony Castellamari.

De que modo a Lídia, interpretada pela Miriam Freeland, passa a ter a sua vida ligada à do personagem do Gabriel Braga Nunes? Você pretende discutir a ética profissional, através do personagem da Miriam, que é jornalista?

Lauro César Muniz: Lígia é repórter da revista Grafos, é competente, ousada, inteligente. Vive um conflito ao se apaixonar por Tony, que ela julga ser um capo mafioso. Como abandonar suas convicções, sua formação de jornalista séria e investigativa para ficar com um homem que parece ser um criminoso?

Que importância terá o triângulo formado pela Paloma Duarte, pelo Marcelo Serrado e pela Adriana Garambone nessa trama?

Lauro César Muniz: Importância vital já que nada nesta história acontece por acaso. Todas as relações e tramas estão interligadas e se desenvolvem com total coerência.

Como você geriu a crise que estalou entre a Paloma Duarte e o Marcelo Serrado?

Lauro César Muniz: Não houve propriamente uma crise. Houve mal-entendidos. Quando o assunto chegou até mim já estava resolvido. Nunca a Paloma cogitou de sair da nossa novela.

Quem você destacaria se tivesse de explicar a quem desconhece o enredo de ‘Poder Paralelo’?

Lauro César Muniz: Gosto de todos os personagens. Destacar algum seria injustiça.

Como você reagiu às saídas de alguns dos seus atores para a telenovela do Tiago Santiago, em especial, o Luciano Szafir? Foi mais uma concessão que você teve de fazer para ele?

Lauro César Muniz: É comum em todas as emissoras essa migração de atores de uma novela para outra, na Record não é diferente. O mesmo ocorreu, por exemplo, com Petrônio Gontijo e Miriam Freeland que deixaram “Os Mutantes” para integrarem o elenco de “Poder Paralelo”.

Vários atores vieram de ‘Paixões Proibidas’, exibida na Band. Isso é, em parte, resultado de contar com a direção do Ignácio Coqueiro?

Lauro César Muniz: Ignácio é um diretor experiente e com grande sensibilidade e bom gosto. Nosso trabalho está apoiado na confiança mútua, no diálogo. Nada é decidido sem a nossa concordância.

Das primeiras imagens divulgadas, ‘Poder Paralelo’ aparenta ter cenários um pouco sombrios e uma iluminação bastante escura. É proposital para a atmosfera que você quer ver criada para a sua novela?

Lauro César Muniz: A direção de arte e a iluminação de “Poder Paralelo” são extremamente bem cuidados. Cada ambiente está adequado à sua atmosfera, inclusive com paisagens belíssimas e muito sol quando necessário.

A explosão, que já aparece nas chamadas da novela, é um dos pontos-chave iniciais criados para prender as pessoas?

Lauro César Muniz: Nas chamadas aparecem apenas parcialmente esta explosão. A qualidade técnica da explosão é realmente fantástica, aliada a uma direção segura e certeira, que garante a emoção das cenas.

Dessa vez, você está dividindo o seu trabalho de redação com mais pessoas? Com quantos capítulos você estreia de frente?

Lauro César Muniz: Divido o trabalho com vários colaboradores: Dora Castellar, Mário Viana, Aimar Labaki, Newton Cannito, Rosane Lima e a pesquisadora Rosani Madeira. Vamos estrear com 44 capítulos escritos.

‘Poder Paralelo’ é a sua última novela na Record? Como estão suas relações com a emissora?

Lauro César Muniz: Minhas relações com a Tv Record são excelentes. A emissora investiu dinheiro e afeto na produção de Poder Paralelo. Só tenho que agradecer o empenho dos vários setores que colaboraram visando o sucesso de Poder Paralelo.

Como você vê uma eventual concorrência do SBT, com a reprise de ‘Dona Beija’?

Lauro César Muniz: Não escolhos os concorrentes. Toda novela que se escreve, é para ser páreo para qualquer outra, se escreve por que acredita-se no seu potencial e na sua qualidade, se não porque escrevê-la?

Como você descreveria ‘Poder Paralelo’ para os internautas do site?

Lauro César Muniz: Poder Paralelo não vai dourar a realidade com mentiras e fantasias. Vai falar de problemas sérios, vai tentar mobilizar o telespectador para a realidade que vivemos hoje em nosso país. (A entrevista foi feita pelo Natelinha).

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