23 abril 2009

Chaves:Um Grande Sucesso

O que ele tem que os outros não têm?

    Há diversas explicações para o sucesso. Segundo o próprio autor, Chaves é um menino pobre, faminto, que mora num cortiço e que apesar de tudo, não perde o bom-humor e a vontade de se ser feliz. Portanto, em qualquer país onde houver crianças nessas condições, o sucesso será garantido, pois o público identifica facilmente o contexto do seriado com sua própria realidade social. Claro que conta também o fato de ser um programa que exibe um humor ingênuo, simplório e sem nenhum tipo de apelação.

    Já o êxito do Chapolin é mais interessante: Chespirito diz que o personagem é o autêntico super-herói latino-americano, fracote, atrapalhado e debochado que faz oposição aos Batmans e Super Homens, personagens inabaláveis e inimputáveis mas que nunca tiveram nada a ver com valores das crianças do hemisfério sul. Além disso, as grandes multinacionais culturais até então obrigavam as emissoras latinas a promover esses heróis que exaltavam as cores de suas bandeiras e o orgulho de ser desenvolvido, civilizado, "americano do norte". Chespirito chega até a alfinetar a virilidade desses heróis americanos, afirmando que ao contrário deles, uma das principais características do Chapolin é que ele gosta muito de mulher e sempre está paquerando descaradamente a mocinha do episódio.

    Eis a própria definição de Roberto Gómez Bolaños: "Cervantes escribió El Quijote como una crítica a las novelas de caballería y, salvando las distancias, yo hice el Chapulín como el antihéroe latinoamericano en repuesta a los Batmanes y Supermanes que nos invadían desde el norte." Mais do que isso, Chapolin é, salvo as proporções também, a própria encarnação do anti-herói auto estereotipado, o "Macunaíma mexicano" que carrega consigo de maneira debochada, preguiçosa e "sem caráter" o perfil do 'homem cordial' e o 'espírito aventureiro' do povo latino americano (quem estiver a fim de saber mais a respeito do assunto, leia Sérgio Buarque de Hollanda e suas "Raízes do Brasil").

Fora SBT: o motivo da revolta

    Diante de tudo isso, já fica mais fácil entender o porquê do fascínio e admiração de gente de todas as idades por esse programa. Desde a petizada geração 90 aos marmanjos que não se cansam de dar gargalhadas assistindo as mesmas piadas, passando pelo pessoal mais fanático e interneteiro que mantêm sites com um conteúdo inacreditável sobre a série, superiores ao próprio site oficial do Chespirito ou de fãs de outros países.

    Infelizmente, o que não dá para entender nem aceitar é o azar que tem o pessoal no Brasil em ser obrigado a assistir ao programa nas condições precárias e desrespeitosas que o SBesTeira o exibe. De uns anos pra cá, ele passou a mutilar os episódios com cortes mal feitos só para encaixar dois 2 seguidos em sua programação. Alguns episódios que passavam nos 80 nunca mais foram reprisados. De repente ele anunciou que ia estrear o "Clube do Chaves", programa semanal onde seriam exibidos episódios inéditos no país (produzidos dos anos 80 em diante) mas no dia da estréia, simplesmente não estreou e nunca se deu ao trabalho de dar uma explicação convincente para essa atitude. E a última grande palhaçada: desde o ano passado, na época do horário político, ele tirou o Chapolin do ar, com a promessa que voltaria depois. Terminadas as eleições, o SBT elimina o programa e coloca em seu lugar o deplorável "Um maluco no pedaço" do Will Smith com suas piadas mal traduzidas.

    Através da internet, muita gente fã da série se mobilizou a respeito do assunto, criando movimentos de protesto, correntes de e-mail, batendo de frente e soltando os cachorros contra o departamento de marketing e atendimento ao telespectador da emissora. Até agora o barulho das reclamações não tem sido suficiente para que eles se manquem e atendam os pedidos. Acredito que com uma melhor organização e, principalmente, tentando entender o problema mais a fundo, talvez possa se chegar a um resultado mais eficaz. Vamos então 'dissecar' algumas das hipóteses que levam o SBT a agir desastradamente dessa forma

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